Se tem uma coisa que mudou no jogo para quem trabalha com tecnologia, foi a chegada avassaladora da IA nos nossos fluxos de trabalho. Mas aqui vai o pulo do gato: não é só sobre aprender a usar IA: é sobre entender o impacto real dela quando você se compromete a construir algo do zero, lidar com gente de verdade e colocar uma aplicação no mundo. E aí, não tem tutorial que ensine. Só vivendo mesmo.
Comecei a sentir essa virada de chave quando toquei um side-project recente. A ideia era simples no papel: um app interno para facilitar com dados reais e automação de tarefas repetitivas. Só que, ao contrário do que você vê em demo bonitinha de ferramenta de IA, a realidade é barulhenta, com usuários clicando onde não deviam, bugs em produção, dependências quebrando e decisões de produto sendo questionadas a cada iteração.
O que esse projeto me ensinou, e que você não vai absorver lendo sobre “transformação digital” em slide de consultoria, é que o verdadeiro aprendizado não está só em codar. Está no ciclo inteiro: entender o problema, priorizar uma solução imperfeita, receber aquele feedback honesto do cliente (“não entendi nada dessa tela”) e voltar pra mesa, repensar e reconstruir. É o tipo de coisa que afina sua intuição técnica e te força a sair do raso.
E é aqui que a IA entra como catalisadora, mas não como muleta. Sim, ela te ajuda a gerar código mais rápido, debugar com mais contexto, até montar um MVP em tempo recorde. Mas se você não tiver clareza do porquê, pra quem e com que trade-offs está construindo, vai estar só decorando fórmulas com ajuda de um copiloto. Side-projects te forçam a se responsabilizar pelo todo e inclusive pelos erros. Isso vale mais que qualquer badge de certificação em IA Generativa.
Esse tipo de experiência é ouro pra sua carreira, especialmente num cenário onde cada vez mais desenvolvedores estão virando “operadores de IA” e perdendo contato com as arestas da realidade. Colocar algo no ar te dá vocabulário pra conversar com liderança, te coloca no mesmo nível do time de produto e te prepara pra pensar em arquitetura não só como estrutura de código, mas como um ecossistema vivo, com dependências políticas, expectativas do negócio e limitações técnicas.
Se você quer crescer na carreira, parar de ser só o “resolvedor de ticket” e começar a ser ouvido em discussões que realmente moldam o que a empresa entrega, começa por aqui. Pega uma dor real. Algo que você ou seus colegas enfrentam todo dia. Prototipa. Coloca no ar. Mostra. Refina. Aprende. Faz de novo. Side-projects não são um luxo, são um laboratório controlado onde você testa suas ideias e solidifica sua maturidade técnica.
TLDR;
Em um mundo onde todo mundo fala de IA, o diferencial vai ser de quem sabe o que fazer com ela. E essa habilidade não vem de tutoriais, vem da prática. Side-projects são a forma mais honesta de se colocar à prova sem precisar da permissão de ninguém. São pequenos campos de batalha que te forjam em habilidades que a IA, por mais avançada que seja, ainda não domina: julgamento, empatia, resiliência e visão de produto.