O mercado de software em 2025: nem quente, nem frio. Só… estranho.
Um digest comentado da última edição do The Pragmatic Engineer
“Quem tá dentro não quer sair. Quem tá fora não consegue entrar. Esse é o mercado de software em 2025.”
Hoje é diferente: um conteúdo especial
Essa edição da nossa newsletter foge um pouco do formato tradicional.
Em vez de trazer uma reflexão 100% original, resolvi compartilhar algo que me ajudou muito a entender para onde o mercado de software está caminhando, e que pode fazer sentido pra você também.
Fiz uma curadoria dos principais pontos da última edição da The Pragmatic Engineer (do Gergely Orosz), uma das newsletters mais respeitadas sobre engenharia de software no mundo. Mas não se preocupe: isso aqui não é uma simples tradução. É uma digestão com comentários, contexto e provocações sobre o que realmente importa pra quem trabalha com tecnologia hoje.
O conteúdo completo e original está disponível no site da newsletter, mas a seguir, você encontra o que eu achei mais relevante, sem enrolação e com pitadas de realidade brasileira também.
O mercado não esfriou. Ele… embolou.
Sabe aquela sensação de que as coisas estão andando, mas não saem do lugar? Essa é a vibe do mercado de tecnologia em 2025. Vagas existem, mas não estão tão acessíveis. Empresas querem contratar, mas têm dificuldade de preencher posições. Enquanto isso, quem procura emprego sente que está jogando um jogo de tabuleiro onde as regras mudam toda hora, e às vezes, o dado some da mesa.
A análise do The Pragmatic Engineer traz dados inéditos e entrevistas com quem está vivendo isso na prática. O resultado? Um raio-X bem realista (e nada otimista demais) sobre onde estamos.
Antes de mergulhar nos detalhes, vale deixar algo claro: a fase “contrata todo mundo e resolve depois” ficou no passado. O mercado de 2025 é seletivo, mais exigente , talvez o mais curioso, menos linear.
O que está realmente acontecendo?
A primeira camada do relatório mostra uma contradição interessante: sim, há mais vagas sendo abertas. Mas isso não tem se traduzido em contratação rápida. O que se vê é um mercado mais criterioso e, em alguns casos, até conservador.
Os destaques:
Big Tech voltou ao jogo. Apple, Google, Amazon, IBM e companhia estão recontratando, principalmente para posições técnicas core (backend, cloud, etc).
Consultorias aceleraram. NTT Data, DXC e outras estão surfando a onda da demanda por projetos de AI e serviços sob demanda.
Vagas sênior dominam. O número de posições acima de sênior é maior que o de vagas para níveis júnior e pleno. Isso cria um funil apertado para quem está no início da carreira.
Cortes em cargos de gestão. Empresas como Amazon estão enxugando o nível de Engineering Managers e cargos de diretoria. Times mais planos, menos chefes, e menos vagas em liderança.
“Ser gestor em Big Tech virou uma corrida com poucas vagas e muita gente qualificada.”
AI Engineering: o novo centro de gravidade
Não é exagero dizer que AI virou a nova engenharia de software. Se antes era um diferencial, hoje é quase uma exigência para quem quer continuar relevante nos próximos anos. O relatório mostra um crescimento brutal no volume de vagas em AI Engineering, especialmente após 2023.
Mas esse movimento tem nuances interessantes:
San Francisco ainda reina. Um terço das vagas globais nessa área está concentrado no Vale do Silício. Ainda é o epicentro de tudo.
Vagas remotas ainda resistem. Em contraste com o resto do mercado, o segmento de AI continua oferecendo opções 100% remotas, mas isso pode não durar.
Dev experiente consegue migrar. Muitas das vagas envolvem integrar APIs de LLMs em aplicações existentes. Não é preciso criar modelos do zero. Ou seja, engenheiros de software “comum” conseguem fazer a transição, desde que estejam dispostos a estudar.
Sobreviventes do inverno: Big Tech
Depois do tsunami de layoffs em 2023, os gigantes do setor parecem ter encontrado um novo equilíbrio. Não voltaram ao ritmo frenético de 2021, mas mostram sinais consistentes de recuperação.
Aqui vai um panorama rápido:
Meta se recupera com força. Aumentou o número de engenheiros em 19% desde 2022.
Google e Apple seguem firmes. Crescimento estável, sem surpresas, e Apple continua sem realizar demissões em massa.
Amazon e Microsoft são mais cautelosas. Estão contratando, mas em ritmo mais lento.
NVIDIA é o foguete da vez. Crescimento de 58% no número de engenheiros, impulsionado pela corrida por GPUs.
E o trabalho remoto?
Lembra quando achávamos que o futuro do trabalho seria todo remoto? Pois é, 2025 chegou com outra realidade.
Os dados mostram que apenas 20% das vagas atuais são full remote, bem abaixo do que vimos entre 2020 e 2022. Mas nem tudo está perdido:
AI Engineering ainda puxa esse bonde. A escassez de talento nessa área tem forçado empresas a flexibilizar a exigência presencial.
Remoto agora é mais barato. Com tanta gente buscando esse modelo, os salários caíram. Vagas que pagavam US$180K hoje oferecem US$110K para remoto, segundo CTOs entrevistados.
Estabilidade ou medo? O que explica a nova onda de permanência
Tem uma métrica que passou batido por muita gente, mas que talvez diga mais sobre o mercado do que os gráficos de contratação: o tempo médio de permanência nas empresas, o famoso tenure.
Nos últimos dois anos, ele deu um salto. Apple e Microsoft, por exemplo, já têm média de permanência acima de 6 anos. A média no Google subiu 50%. Até a Meta, conhecida por equipes mais jovens e rotatividade alta, dobrou a permanência média desde 2022.
Esse dado, à primeira vista, pode até parecer uma boa notícia. Afinal, gente ficando mais tempo no mesmo lugar geralmente significa cultura forte, retenção saudável, carreira sendo construída com calma. Mas… será que é só isso?
A leitura dos dados aponta para outra hipótese, mais desconfortável, porém mais realista: as pessoas não estão ficando porque querem. Estão ficando porque o mercado lá fora não inspira confiança.
Depois da avalanche de layoffs em 2023, o cenário mudou. As vagas não sumiram, mas se tornaram mais raras, mais sênior-heavy e menos seguras. Trocar de emprego, hoje, virou uma decisão estratégica, e não mais uma manobra de salário. Isso faz com que até engenheiros de altíssimo nível prefiram esperar, fortalecer a posição atual e evitar virar o “último a entrar, primeiro a sair” caso venha uma nova onda de cortes.
“Quando até engenheiros da Big Tech pensam duas vezes antes de sair, talvez o problema não seja o time atual, e sim o mercado lá fora.”
A pergunta que fica no ar é: estamos entrando numa era de maturidade e compromisso profissional mais duradouro… ou só aprendemos a jogar na retranca?
Talvez seja um pouco dos dois. Mas uma coisa é certa: estabilidade virou estratégia de sobrevivência.
Enfim
O que os dados mostram, no fim das contas, é um mercado que ainda está digerindo o choque de 2023. Big Tech se ajustou, startups ficaram mais cautelosas, e a ideia de “pivotar de empresa a cada 2 anos” já não parece tão atraente.
Se tem uma trilha quente, é a de AI Engineering, mas não é para qualquer um, e o nível de competição subiu. O resto do mercado está em movimento… lento, complexo e ainda um tanto imprevisível.
Se curtir esse formato de digest comentado, posso seguir trazendo outras leituras traduzidas e mastigadas. Me avisa.


